22/04/2008

José Saramago



" Tenho a impressão de que as palavras atrapalham muito. (...) Em primeiro lugar porque é díficil pôr toda a gente de acordo sobre o significado delas, os limites em que são aquilo que parecem ser. Em segundo lugar, o abuso de uma retórica que começa por esvaziar tudo e pôr no seu lugar aquilo a que chamaria a casca das palavras. A palavra deixou de ter conteúdo, deixou de ter qualquer coisa dentro, e é pronunciada com uma ligeireza, com uma leviandade total."

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" Acho que damos pouca atenção àquilo que efectivamente decide tudo na nossa vida, ao orgão que levamos dentro da cabeça: o cérebro. (...) A linguagem, o vocabulário mais ou menos extenso, mais ou menos rico, mais ou menos expressivo, as crenças, os amores, os ódios, Deus e o diabo, tudo está dentro da nossa cabeça."

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" O que falta a Portugal é exactamente sentido crítico. Estamos muito aborregados. Já nem somos capazes de balir. Mééééé! Nem sequer isso. Achamos que a crítica, que a autocrítica, a contracritica é coisa deles, dos políticos, dos jornalistas. A verdade é que não consigo deixar passar em claro coisas que vão - não contra a minha maneira de ser que, aqui, não tem nada que ver -, às vezes contra o próprio senso comum. E como não estava, não estou e não estarei nunca aqui para cumprir ordens (não é que não as cumpra, mas tenho de estar de acordo com elas)...

Excertos da entrevista de José Saramago ao semanário Sol de 19/04/2008

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