18/04/2008

O Leão Enraivecido


Glória, apoteose, espectáculo, pura poesia, muito se pode dizer daqueles vinte e cinco minutos finais que ficarão na memória de qualquer sportinguista, benfiquista ou adepto que se preze.
Não existem análises frias para estas coisas que expliquem a mística, o sentimento e a rivalidade existente entre os dois maiores clubes de Lisboa. Este é certamente, não tenho a menor dúvida, um dos cinco melhores derbys do mundo (não fosse em Portugal e...).
Desta vez o tema do "drama" que se adensou naqueles 90 minutos foi o orgulho ferido e as sempre inevitáveis contas a serem sanadas: de uma época má do Sporting e desastrada do Benfica.
Da parte do Sporting, o jogo da primeira volta do campeonato onde o Benfica foi muito beneficiado pela arbitragem. A contestação à forma de jogar previsivel de Paulo Bento e falhanços em momentos decisivos, para não falar de uma taça perdida com o Vitória de Setúbal. Depois Derlei. Sim Derlei, que depois de escorraçado do Benfica teve uma época inteira lesionado, com trinta e dois anos e duas operações ao joelho. O herói de Sevilha teria feito muita falta ao Sporting em termos de experiência e eficácia atacante.
No outro lado era o ultimo derby de Rui Costa, a sua ultima oportunidade e muito mais que isso, o Benfica vinha de uma derrota caseira por três a zero em casa com a Académica, que além da tremenda humilhação, deu ás águias um quase inevitável quarto lugar. Seria inadmissivel perder em Alvalade. Ganhando exorcisava o demónio. Perdendo seria a hecatombe.
Tendo tudo a ganhar e tudo a perder, o Benfica entrou de rajada com dois golos na primeira parte, onde podia ter acabado com o jogo. Com dois socos bem dados, os benfiquistas berravam de alegria. O leão moribundo já ouvia "olés" aos quarenta minutos de jogo. Temía-se o desastre - tinha ido literalmente ao chão, tombado, enquanto se contavam os segundos. Quase morto por KO, levanta-se quase no ultimo instante. É intervalo e altura de ouvir o que o treinador tem a dizer.
Os milagres são raros e ninguém acredita numa reviravolta, mas a verdade é que volta a um novo "round" com uma nova força vinda das entranhas, da raiva de ver o maior rival tentar provocar a sua aniquilação. Levou tempo até começar a ver a luz ao fundo do túnel. Uma bola ao poste de Moutinho fez-lhe acreditar. Até que a vinte e cinco minutos do fim, dois socos estremeceram o Benfica e um terceiro vindo precisamente de Derlei atira pela primeira vez o adversário às cordas. Este ainda reage com um estremeção, mas só consegue com isto espicaçar ainda mais o leão que com mais dois socos bem dados o atira definitivamente ao chão. KO total. O público nas bancadas incrédulo exulta, os que antes gritavam "olé" nem se ouvem, não querem acreditar. Os neutros ou desalinhados sentem-se saciados com o espéctáculo na arena - mas que grande jogo, mas que grande combate! A coroa da glória essa deram-na a Derlei, é da mais elementar justiça.

1 comentário:

gata pantufa disse...

O Leão finalmente mostrou as garras e que espectaculo! Nunca desisto de ver um jogo do meu clube até ao fim sempre na esperança, mas desta vez foi demais!