03/03/2008

BEATRIZ BATARDA





Eis alguns excertos da entrevista que esta fantástica actriz de 33 anos concedeu esta semana ao Expresso:



" A profissão que escolhi implica uma responsabilidade cívica, social e moral." (...)
" O actor (...) tem sobretudo que partilhar. Partilhar o conhecimento que vai procurar em cada dia e em cada ensaio para oferecer ao público."
" Por um lado, há o desejo de ter um ´star system`, ou seja, a necessidade de que haja pessoas que nos façam fantasiar, que idolatremos, que levem a nossa imaginação para um nível quase de conto e nos tirem do nosso rame-rame. Por outro, existe o desprezo total pela profissão de quem lhes permite tudo o resto. O estatuto de intermitente não é devidamente consagrado na lei que rege os nossos contratos de trabalho, continuamos sem regime especial de segurança social... Mas estas questões já não interessam, ninguém quer saber delas."
" Ouvimos dizer à boca cheia que somos subsidiodependentes, mas ninguém sequer sabe quais são os valores implicados nos subsídios. É bom que o Estado explique que a sua comparticipação é rídicula e não cobre nunca mais de um terço ou de um quarto do custo real de cada projecto"
" Entretenimento e cultura não são a mesma coisa" (... ) " A existência do Teatro não comercial corresponde ao desenvolvimento do pensamento artístico. É o que nos permite ser actores no verdadeiro sentido da palavra, e ser actor não é essa viagem ao ego que o tal star system quer fazer passar!"
" Eu quando vou ao Teatro e ao cinema quero ir para casa diferente, quero que aconteça ali qualquer coisa, nem que seja por um segundo, que me mude a mim, uma magia, um som, uma imagem... Para eu ir para casa mais rica"
" O Teatro é uma experiência, é vida, é calor humano e principalmente conhecimentos. O cinema é uma forma um bocadinho mais fria dessa experiência, mas mais depurada e muito mais intensa."
" Prefiro o enriquecimento pessoal, o crescimento profissional e a consequente melhoria da qualidade final do produto artístico-cultural, em detrimento da remuneração. Não há cachê que pague a disponibilidade de um actor, o seu esforço permanente, e o facto de viver sempre com a corda esticada física, mental e financeiramente."
" Não quero cultivar o facilitismo. Recuso-me admitir que tenha que trabalhar obras que só permitem o primeiro nível de leitura para que o meu trabalho seja entendido e aceite pelo publico."


Que grande Actriz e que grande mulher... Que assim continue, pois é cada vez mais raro ver alguém falar tão à vontade... Sem medos nem rodeios!

3 comentários:

Fir disse...

Belo post. Dá vontade de ler o resto da entrevista. A BB é sem dúvida uma das melhores actrizes da sua (da nossa) geração.

samuel disse...

O que é "inquietante" é que ela tem estampado nos olhos e na cara este brilho da inteligência, tão claramente como outras e outros "colegas" têm estampada a burrice tantas vezes insuportável, por ser exibida como uma qualidade.

RJ disse...

Em tempo de vacas magras a cultura leva sempre em primeiro lugar.

Infelizmente há muito actor que tem que fazer novelas (de qualidade duvidosa) para sobreviver.
Situação paralela à dos músicos nas bandas de baile.
Como apreciador de música (metal, rock progressivo e jazz) custa-me ver como as pessoas "comem" artistas de qualidade duvidosa só porque são famosos ou porque vão ao programa de televisão certo.

A criatividade é tudo. As vendas são muitas vezes proporcionais não à qualidade intrínseca da arte em si mas sim à sua aceitabilidade por parte do povo(mais dependente da publicidade e do factor "moda").

Não há uma cultura de procura e de interesse mas sim uma aceitação do que os "outros" ou as "modas" querem impor.