14/03/2008

EPISÓDIOS

Os dias vão se desenrolando e com eles um leque de episódios nos quais pensamos um pouco, contamos a uma ou outra pessoa, mas mais tarde ou mais cedo esquecemos no desenrolar dos dias. E foi a pensar num episódio que me aconteceu ontem à noite que decidi criar esta nova rubrica.

Entrava eu ontem no Teatro Nacional para fazer mais um espectáculo, ou como diz "a velha guarda" para cumprir a função, quando se dá o seguinte e admirável acontecimento: Entro pela porta dos artistas, dou o meu nome, recebo a chave do camarim e alí ia eu... Até que ouço:"esse aí também é", exactamente esta frase e quem a dizia era o empregado do teatro que tinha acabado de me dar a chave a um senhor velhote que por alí se encontrava. Este senhor (personagem carismática) dirigiu-se a mim muito educadamente perguntando-me o nome, respondi e à resposta o sr. começa a procurar nos seus muito organizados papéis "a minha ficha". Tratava-se de uma folha branca A4 com o meu nome por cima, onde me disse que seriam introduzidas fotografias minhas e um traço comprido e divisório a meio da folha para que na parte de baixo deixasse o meu autógrafo. Pediu-me imensa desculpa de ainda não ter fotografia...
Explicou-me que há mais de 50 anos pedia autógrafos a todos os actores tendo uma colecção de milhares e milhares de autógrafos, uma colecção de grande valor sem dúvida. Perguntei-lhe se fazia esses pedidos só no teatro nacional (pois já tinha percebido que era personagem conhecido por alí) ao que me respondeu que fazia na porta de artistas de todos os principais teatros lisboetas (extraordinário).
Após com um abraço ter deixado depositado o meu nome no papel que depois levaria uma mica por cima e seria metido num dossier já com fotografia, quando me preparava para me despedir de tão simpático senhor, este pára-me para me contar um episódio que lhe havia acontecido há bem pouco tempo e tinha alí com ele as provas todas para que eu não duvidasse e, podem crer que não há dúvidas.
Contou ele então que há uns dias tinha ido ao Coliseu aquando da grande aclamação de Simone de Oliveira. Como é natural pediu-lhe um autógrafo ao que esta desiducadamente respondeu que não tinha tempo, meio estupefacto este retorquiu-lhe que ela há 45 anos era bem mais simpática... Perante tal frase a famosa Simone pergunta: -mas donde é que o conheço? E ele com toda a sua natural simplicidade abriu um velho bloquinho (que eu vi) e mostrou à vedeta as belas palavras que ela lhe havia escrito (que eu li) e a sua respectiva fotografia tão tão tão mais nova... Bem parece que ficou de tal forma desarmada que lhe escreveu uma dedicatória ainda mais comovente que a antiga (esta não vi, mas não tenho por que não acreditar no senhor) e com mais esta ele seguiu o seu caminho...

Eu acho que este episódio tem uma moral... Fica para quem a quiser interpretar.

Quanto a mim ao pensar nisto hoje, para ser sincero ontem não dei grande importância, devo dizer-vos que me sinto orgulhoso de pertencer àquele leque de milhares e milhares de autógrafos!

4 comentários:

cristina rocha disse...

Cada vez mais tenho a certeza que são os pequenos gestos que fazem a diferença.
Quanto a esse velho senhor e ao seu dossier, ainda bem que existem pessoas que guardam as nossas origens e num momento de de falta de humildade nos relembram de onde viémos e de como já fomos bem melhores.
Assim são os verdadeiros amigos, que podem ser os de todos os dias ou os de certos momentos, mas que nunca deixam de nos lembrar o bom que há em nós e nos chamam à razão nos instantes em que o haviamos esquecido, mesmo que que por uns meros minutos ou segundos.

Fir disse...

Olá, Nuno.
Bela história, essa que nos contas. Não sabia que estavas a fazer uma peça no D. Maria. Por que é que não aproveitas o espaço do blog para ires dando conta aos amigos da tua actividade profissional?
Abraço.

Nuno Góis disse...

Grande Firmino, antes de mais obrigado pelo comentário.
Quanto à questão que me colocas só te posso dizer que no meu perfil encontras a companhia para quem estou a trabalhar a cada momento. Mais não pretendo fazer, pois não vejo o blogue como espaço de auto-promoção.
Quanto a estar no Nacional ou no amador de Moimenta da Beira a atitude é a mesma.
Quanto ao mais onde vires em teatro o nome Nuno Góis liga porque sou eu e pode ser que se arranje uns convites...
Aquele abraço!

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Gostei muito dos teus textos,são maravilhosos.meu blog é marthacorreaonline.blogspot.com