22/03/2008

Sublinhado

Angela Merkel esteve no Knesset e pela enésima vez à Alemanha foram exigidas desculpas pela barbárie nazista. A extrema-direita quase boicotou a sessão, recusando-se ouvir a língua alemã naquele anfiteatro onde estão representados os cidadãos do único Estado do Médio Oriente onde se respeita a tradição democrática ocidental. Sessenta anos após a derrocada do desastroso Reich - que trouxe americanos e russos para o centro da Europa, que precipitou o estrepetitoso colapso do velho continente e o fim do Euro-Mundo, que dissolveu a ferro e fogo as elites tradicionais - a Alemanha (o maior amigo, contribuinte e financiador desinteressado de Israel) ainda pede desculpas. Trata-se, sem dúvida, de má política, pois persiste em tratar o Estado Judaico como uma aberração edificada sobre o remorso, um favor concedido a uma geração perseguida e quase exterminada ou, pior, o reconhecimento da insustentabilidade de um estatuto diferenciado que vulnerabiliza e torna quase aceitável a ideia que tal entidade nacional não cumpre os requisitos necessários à igualdade pedida pela comunidade internacional no relacionamento entre Estados. Israel é um país rico, progressivo e estável, pelo que não pode ser tratado como caso patológico. O fanatismo religioso, o "negócio das reparações", o ajuste de contas com o passado e a inimputabilidade, ao invés de fortalecerem Israel, tornam-no quase odioso aos olhos de muitas nações e comunidades também perseguidas, humilhadas e exterminadas. Se assim fosse, o Holocausto também exigiria um Estado para os Ciganos, um Estado para os Surdos, um Estado para as Testemunhas de Jeová, um Estado para os Maçons ! A defesa da viabilidade de Israel estriba-se no reconhecimento da história multimilenar de um povo que é dos derradeiros sobreviventes da Antiguidade e não se pode fundar nem no argumento do Holocausto nem do anti-semitismo. O Holocausto durou três anos e foi executado por gente que foi justamente sentenciada e condenada e por uma ideologia que morreu e não encontra hoje qualquer adesão. Ora, para felicidade ou infelicidade daqueles que se escudam na memória e invocação desse crime, a história é sucessão de tremandas matanças esquecidas. Prolongar o Holocausto é persistir no drama de uma geração em vias de extinção. Daqui a dez ou 20 anos dela não restarão mais que fotografias delidas. A memória singular morre com as pessoas e da memória não nasce o futuro. A memória colectiva do povo de Israel regista outras provações e os judeus, sabiamente, arrumaram-nas no passado. É tempo de acabar com o Holocausto.

(Via Combustões , sublinhados meus)

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