27/03/2008

DIA MUNDIAL DO TEATRO

Cá estamos a comemorar mais um dia mundial do Teatro e, mais uma vez, sem motivos de maior para festejar. O Estado está cada vez mais ausente a todos os níveis: formação de públicos, apoios às estruturas, educação artística, infra-estruturas, etc, etc, etc... Estamos cada vez mais na 3ª ou 4ª divisão da Europa enquanto o poder assobia para o lado passando a bola às autarquias (como diz o ministro fazer mais com menos... ?) que para além de nada ligarem a acontecimentos culturais nada sabem ou percebem do fenómeno teatral e que, para além do mais têm sempre a desculpa de estarem atuladas em dívidas, o que não é mentira. Há ainda o mecenato, mas a este apenas interessa o teatro comercial, pois os benefícios do mecenato não são assim tantos e os processos são complexos.
Para além de tudo isto ou por tudo isto temos uma população cada vez mais inculta e, por impossível que pareça a tendência é para a situação se agravar...
Quem compõe hoje os Media é exactamente esta população de analfabetos que, retirou a crítica teatral da imprensa, e chegou ao cúmulo hoje de se ter esquecido deste dia. Público, Diário de Notícias, SIC, TVI e tantos outros nada dizem neste dia. E a RTP, qual serviço público de televisão, transmite logo à noite, em directo, um espectáculo de teatro comercial de valor muitíssimo duvidoso que mais não fará que deixar as pessoas em casa achando que estão no teatro (Teatro é no Teatro) para amanhã poderem comentar como vai o teatro em Portugal. Mas não é de todo mau que as pessoas hoje não vão ao teatro, mas ao menos aproveitem esse tempo para reflectir seriamente na razão que as leva a não ir ao Teatro o resto do ano. Mas que seja uma reflexão séria, pois a desculpa dos preços já não existe: hoje ir ao Teatro é, na maioria dos casos mais barato que ir ao cinema.
E quanto àquela imensa gente que vai ao teatro hoje, mas só hoje porque é o dia do teatro peço que reflitam também... É que isto não é o Natal ou o dia dos namorados...

Quanto a mim vou parar de me lamentar da escuridão acendendo uma vela e vou logo à noite ao Teatro aqui no Festival de Braga onde ontem já me apresentei.

Bons espectáculos todo o ano... Até porque para sabermos o que é bom, de vez em quando temos que escorregar num mau.

Abram as cortinas e acendam-se as luzes e verão que a escuridão é para os medíocres.

Um abraço!

1 comentário:

Anónimo disse...

"O actor é um advérbio que ramificou
de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente
do Nome.
Nome que se murmura em si, e agita,
e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,
enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor. "


Herberto Helder

» excerto do Poema III de "Poemacto

beijos Bebé