24/03/2008

DA (des)EDUCAÇÃO II


Depois de tanto que tenho lido gostei deste apanhado do 2+2=5 que responde a tanta gente e de forma tão clara.
Deixemo-nos de hipócrisias.

"Os anjinhos dos bons velhos tempos Fiquei chocadíssimo ao aperceber-me de que, afinal, só a minha turma do liceu é que gozava perdidamente com os professores.Recordo-me do J. e do S. a emitirem um programa radiofónico lá da última fila nas aulas daquele professor de História surdo; da professora de Português estrábica a quem nunca respondia o aluno que interrogava, mas outro sentado no lado oposto da sala; ou da turma toda a uivar quando a professora de Inglês que usava mini-saia se esticava toda, de costas para nós, para escrever no alto do quadro. E fico-me por aqui.Castigue-se quem deve ser castigado, mas poupem-me às prédicas sobre o respeito dos alunos pelos professores nas escolas do antigamente(...)
"João Pinto e Castro. ...bl-g- -x-st

"No meu tempoHá dias recebi um convite dos colegas para participar no 30º aniversário do fim do nosso ano de liceu. Não poderei participar, mas sei quem lá encontraria: senhores e senhoras de meia idade, pais e mães de família, empresários, quadros superiores, médicos, advogados, arquitectos, certamente também alguns "falhados".Frequentei o liceu numa cidade de província, uma escola pública. A escola, sem ser de elite, tinha uma boa reputação. O director era um padre jesuíta, muito respeitado dentro e fora da escola e, por nós, também temido. A maioria dos outros professores também não tinha problemas maiores de disciplina. Mas havia as aulas de educação visual, em que sempre jogámos às cartas, o que a professora fingiu não ver. Tínhamos 14 ou 15 anos. As aulas de latim, dadas pelo Dr. S., de quem me lembro hoje com respeito e carinho: era um senhor perto da idade de reforma, tão delicado que quando nós cruzámo-nos com ele na rua, levantava mesmo para nós adolescentes o chapeu, cumprimento já na altura antiquado. Isso não impediu que, quando nos virava as costas na aula, lhe atirámos com bolinhas de papel.E havia a professora de inglês, Mrs. T., que recentemente tinha enviuvado, o que poderá ter contribuído pela sua incapacidade de impor disciplina nas suas aulas. Lembro-me de uma em especial. Alguém tinha trazido uma bola de futebol para a sala, e a professora teve a triste ideia de tentar confiscá-la. Durante minutos, a bola voava de um para outro, para o gáudio de todos. Continuava a voar ainda algum tempo, mesmo depois de ela ter desistido e ter voltado a debitar a matéria, que nós ignorámos como ela então ignorava a bola.O que distingue o nosso caso de 1974 do da Carolina Michaëlis é que não tínhamos como gravar e colocar o espectáculo no Youtube.
"Lutz Brückelmann. quase em português

Frequentei o ensino público antes do 25 de Abril. Sou professor. Tenho filhos. A escola hoje é muito menos violenta, do que a do meu tempo de aluno, e responde a desafios maiores. Bendita democracia


"(...)Sempre houve indisciplina na escola e nas salas de aula. O tempo que as pessoas fantasiam nas suas cabeças desapareceu há umas décadas. Aceito, no entanto, que hoje seja mais grave. Algumas de muitas razões: famílias demissionárias ou ausentes (as mulheres hoje trabalham e espero que não as queiram de volta para casa), formas de socialização entre adolescentes que os pais e os professores desconhecem e com os quais não sabem lidar, concentração de miúdos problemáticos nas mesmas escolas e turmas, pais e alunos que não respeitam a escola porque não a vêem como uma forma de ascensão social, depreciação da imagem do professor, confusão entre autoritarismo e autoridade (sem a qual a educação - aceitação de que a pessoa que está à nossa frente tem qualquer coisa para nos ensinar - é impossível), uma escola cada vez mais distante da realidade quotidiana vivida pelos adolescentes, a hiper-mediatização de cada episódio que deixa de poder ser gerido dentro da sala de aula e passa a ser debatido por todos (para esta última contribuo eu próprio).Alguns destes factores são inultrapassáveis. São assim mesmo. Outros não o são e vale a pena discuti-los. Mas há debates que não vejo muito bem para onde nos podem levar. O que propõem exactamente, para resolver os problemas de disciplina, alguns que aqui deixaram comentários?1. Que o castigo físico volte a ser reintroduzido como forma de ensino?2. Que os alunos complicados sejam proibidos de ir à escola e se acabe com o ensino obrigatório?3. Que se acabe com a Internet e com a televisão?4. Que se esterilizem os pais que não saibam educar os seus filhos?(...)A importância de preparar os professores para lidar com a indisciplina (que passa por saber gerir uma crise, mas também por saber dar aulas) e com adolescentes pareceu-me evidente. Defender a dignidade dos professores é defender os professores, mas não só. É defender a sua qualificação. E quem trabalha com adolescentes em 2008 tem de saber trabalhar com os adolescentes que existem em 2008, com todas as diferenças que há entre eles, e não com o adolescente que devia existir ou que um dia existiu (se é que existiu).
"Daniel Oliveira. Arrastão

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