06/02/2008

HOMENAGEM A P.ANTÓNIO VIEIRA


Não poderia deixar passar os 400 anos do nascimento de Padre António Vieira sem que lhe prestasse uma pequena homenagem, sobretudo pelo homem que foi, pela aventura de vida que teve, e, acima de tudo por ser um Homem que dizia e escrevia o que pensava ser a verdade sem medo de quem pudesse estar a atingir... E atingia os grandes em favor dos mais desfavorecidos. Por outro lado, o escritor e orador fabuloso que foi merecem que o seu génio seja lido e relido, pois como se constatará facilmente a actualidade dos seus textos é incrível.


Citações:

A propósito do ambiente de espionagem que havia (há) em Portugal:

"Em Portugal não se abre uma porta nem se fecha sem que toda a terra não saiba".

Em Roma após a absolvição da condenação inquisitorial e a inconsistência das acusações:

"Quando queimaram um judeu, inocentemente acusado de ter assado o carneiro pascal, não faltou quem confessasse tê-lo visto levar o carneiro na algibeira, assá-lo ao lume da candeia e depois engolir o candeeiro."

Sobre o poder:

"Quantos inocentes vemos condenados, e quantos culpados absoltos, tudo pela falsa e arrogante ostentação dos que cuidam que podem tudo!" (S.II, p117)

Sobre como Portugal trata os portugueses:

"Por isso nos deu Deus tão pouca terra para o nascimento, e tantas terras para a sepultura. Para nascer, pouca terra: Para morrer, toda a terra: Para nascer Portugal: Para morrer, o mundo. Perguntai a vossos avós quantos saíram, e quão poucos tornaram" (S.VII, pp68/69)


Citações do SERMÃO DO BOM LADRÃO

"Nem os Reis podem ir ao Paraíso sem levar consigo os ladrões: nem os ladrões podem ir ao Inferno sem levar consigo os Reis. Isto é o que hei-de pregar" (...) "Mas o que vemos praticar em todos os Reinos do mundo, é tanto pelo contrário, que em vez de os Reis levarem consigo os ladrões ao Paraíso, os ladrões são os que levam consigo os Reis ao Inferno" (...) "É o que disse o outro pirata a Alexandre Magno. Navegava Alexandre em ua poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia: e como fosse trazido a sua presença um pirata, que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre de andar em tão mau ofício: porém ele que não era medroso, nem lerdo, respondeu assim: Basta, Senhor, que eu porque roubo em ua barca, sou ladrão, e vós porque roubais em uma armada, sois Emperador? Assim é. O roubar pouco é a culpa, o roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres." (...) "O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao Inferno: os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são outros ladrões de maior calibre, e mais alta esfera" (...) "Diógenes que tudo via com mais aguda vista que os outros homens, viu que ua grande tropa de varas, e ministros de justiça levavam a enforcar uns ladrões, e começou a bradar: Lá vão os ladrões grandes enforcar os piquenos" (...) "Quantas vezes se viu em Roma ir a enforcar um ladrão por ter furtado um carneiro, e no mesmo dia ser levado em triunfo um cônsul por ter roubado ua provincia." (...) "O que se não pode calar com boa consciência, ainda que seja com repugnância, é força que se diga."


Citações do SERMÃO DE S.ANTÓNIO

"Assim a nossa terra se pode chamar Lusitânia, porque a ninguém deixa luzir" (...) "Que foi um Afonso de Albuqueque no Oriente? Que foi um Duarte Pacheco? Que foi um D.João de Castro? Que foi um Nuno da Cunha, e tantos outros Heróis famosos?" (...) "Mas depois de voarem nas asas da fama por todo o mundo estes Astros, ou indigentes da nossa nação, onde foram parar, quando chegaram a ela? Um vereis privado com infâmia do governo, outro preso, e morto em um Hospital, outro retirado, e mudo em um deserto, e o melhor livrado de todos, o que se mandou sepultar nas águas do Oceano, encomendando aos ventos levassem à sua Pátria as últimas vozes, com que dela se despedia: Pátria ingrata, não possuirás os meus ossos. Vede agora se tinha eu razão para dizer, que é natureza, ou má condição da nossa Lusitânia não poder consentir que luzam os que nascem nela." (...) "Não assim o generoso, e fiel ânimo de António, e por isso antes de Pádua, que de Lisboa. Não teve agravos que perdoar à Pátria;porque os anticipou com fugir dela: foi porém tão reconhecido, e tão agradecido às honras, que recebeu da devação, da piedade, e da nobreza de Itália, posto que terra estranha, que não tendo outra cousa que lhe deixar por prenda de seu amor, por memorial de sua gratidão, e por fiador perpétuo de seu patrocínio, deixou nela o depósito de seus sagrados despojos; para que também entendam todos os que amam, veneram, e servem a S. António, de qualquer nação ou condição, que sejam; que servem a tão bom pagador, que não sabe dever o que deve; e que só é natural das suas obrigações, porque não reconhece outra Pátria."


SERMÃO AOS PEIXES

"Não só vós comeis uns aos outros, senão os grandes comem os pequenos. Se fora pelo contrário, era menos mal. Se os pequenos comerem os grandes, bastara um grande para muitos pequenos, mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande."

2 comentários:

Anónimo disse...

Desde já parabéns pela selecção das citações que não poderiam estar mais actuais.

400 anos passaram, mas a mentalidade deste país à beira mar plantado pouco ou nada evoluiu. Quantas mentes brilhantes estamos constantemente a forçar partir, a menosprezar, a abandonar, a fazer esquecer que aqui se fizeram gente e que é o sangue deste povo que lhe corre nas veias?
Quanta população é constantemente deixada ao abandono porque a vergonha de se ser "fraco" fala mais alto? Quem são aqueles que apesar de poucos, continuam a ser reis e a levar consigo os ladrões?
Gostamos tanto de enaltecer a história, temos um orgulho enorme nos nossos feitos passados, mas esquecemo-nos de continuar a aplicar essa força sobre-humana de querer fazer, de ir mais além, de conquistar...
Infelizmente aos sermões "faz-se orelhas moucas". Pensem nestas palavras, reflictam, acreditem nos sonhos e por fim não tenham medo de agir...
Porque o que faz os grandes homens não sonhar, mas sim ter a coragem para os tornar realidade.

Nuno Góis disse...

Obrigado pelas palavras elogiosas... E continuemos a agir, tal como o Grande génio Padre António Vieira que nunca desistiu...