06/02/2008

"Um projecto consistente para a cultura em Portugal"

Acabo agora de rever o abaixo assinado "um projecto consistente para a cultura em Portugal" e constato que já vai em 2803 assinaturas, mostrando que as pessoas não o deixaram de assinar, mesmo após a queda da ministra. O que não deixa de ser uma atitude louvável de quem não desiste de lutar por aquilo em que acredita.

Antes de mais, queria deixar os meus parabéns a Vera Mantero, assinante número um e proponente deste abaixo assinado, que não tenho dúvidas que em muito influiu para a queda da ministra e para uma nova opção para a cultura, com um ministro que terá uma posição muito mais activa e que tem, pelo menos, uma vantagem clara em relação à anterior ministra - é culto.

Gostava agora de fazer uma análise um pouco mais profunda sobre quem assinou a petição. E aqui, a primeira coisa que me salta à vista - e é absolutamente fantástica - é constatar que a maioria dos abaixo-assinados são mulheres e homens que trabalham em àreas que pouco ou nada têm que ver com cultura, o que prova que nem todos(as) andam distraídos(as) e que, por outro lado, as pessoas encontram-se sedentas de cultura neste país cada vez mais amorfo a todos os níveis. Parabéns.

Devido a não ter tão vasto conhecimento do que se passa e de quem são todos os agentes culturais em todas as áreas, vou agora debruçar-me apenas sobre o que constatei em três ramos: Dança, Cinema e Teatro. E o que vi eu?

Uma união fantástica entre as pricipais coreógrafas(os) e dançarinos(as). Vemos no abaixo assinado: Vera Mantero, Miguel Pereira, Tiago Guedes, João Fiadeiro, Olga Roriz, Clara Andermatt, Sofia Neuphart...provavelmente - e peço desde já desculpa - ainda me esqueci de alguém ou não tive espaço para mais...Fabuloso

No cinema a participação não é tão forte. Ainda assim, quem não conhece José Nascimento, João Canijo ou Teresa villaverde? Até Patrícia Vasconcelos faz parte da lista...

E agora o Teatro, que é a minha área. Não posso dizer que não me sinta orgulhoso ao ver o nome de Raúl Solnado, ou do Miguel Seabra (teatro meridional). Como também não posso deixar de constatar que estão lá os nomes de Miguel Abreu, João Grosso, Joana Bárcia, Beatriz Batarda, Ana brandão, João Vidigal (sind. trab.do espectáculo), Álvaro Correia ( Teatro da Comuna), Lucia Sigalho, Ana Tamen, João Garcia Miguel...Não está aqui em causa o que eu pense do trabalho destes colegas, mas do nome que já têm. Ainda assim, se repararem, já citei anteriormente vários nomes de actores e principalmente actrizes da minha geração( geração dos trinta ) e muitos mais tenho e posso citar, até pelo respeito que o seu trabalho me merece. Deste modo e da minha geração tenho ainda os colegas (alguns amigos): Claudio da Silva, Tiago Barbosa, Ana Ribeiro, Paula Diogo, Diogo Bento, André Teodósio, Ricardo Cruz, Miguel Fonseca, Sofia Cabrita, Ana Sofia Paiva...e para concluir, uma menção especial a Martim Pedroso, pelo espectáculo de "merda" que criou como revolta em relação à questão dos intermitentes.

Gostei ainda de ver a assinatura de José Maria Vieira Mendes (dramaturgo).

Como vêm até temos aqui alguns nomes, mas há uma questão que não pára de me intrigar. Onde estão tantas outras assinaturas? E uma lacuna evidente...Não vejo uma assinatura que seja dos grandes dinossauros do teatro que é feito neste país. Sim, esses mesmos, os grandes corajosos de Abril que agora abarcam a maior parte dos subsídios, dando-se muito pouco ou nada ao trabalho de ir ver o que as novas gerações fazem. E muitas vezes para eles novas gerações são pessoas de cinquenta anos ou quase. Isto é duplamente curioso, pois conheço alguns que comentam o que conhecem de outros e acreditem ou não, não havia dinossauro que quisesse a continuidade desta ministra (a não ser talvez o Fragateiro, mas esse...). Porque não assinaram? Estão satisfeitos com a sua situação actual e não querem confusões, não se querem misturar com os que assinaram ou esqueceram os seus principios básicos de lutadores por aquilo que dizem que acreditam? Uma cultura melhor para Portugal.

O facto de não terem assinado remete-me para outra pergunta. Para quando uma associação portuguesa de encenadores? E de actores? Nunca foi possível por pseudo-rivalidades destes dinossauros. Mas por que não avançar agora no sentido de nos tornarmos mais fortes e sem rivalidades fúteis? Quem quiser embarca, quem não quiser que continue navegando sozinho fazendo espectáculos para amigos...jornalistas...e convidados.

Para concluir e baseando-me no facto da maioria dos peticionários terem pouco ou nada a ganhar com as artes (isto a nivel profissional) gostava só de chamar a atenção para o Dr. Vasco Graça Moura, que antes de escrever o que escreveu no Diário de Notícias devia ter lido a petição e quem a assinou. Passo a citar: "O Primeiro Ministro acabou por se revelar sensivel aos protestos de grande parte da subsidiodependência".
Se assim foi ainda bem, pois não estamos aqui pela parte comercial - a não ser que queira um país de La Ferias e Antónios Feios( com todo o respeito ) - mas pela cultura deste país...

Um abraço e juntemo-nos cada vez mais, porque pior do que isto é díficil...

Sem comentários: